protocolo de manchesterCRÓNICA - O Senhor Doutor Protocolo
Por simpatia e amizade, o Director do Serviço de Urgência dos HUC perguntou-me o que achava da eventual contratação deste novo Colega, Doutorado lá para os lados de Manchester. Concordei, considerando os condicionalismos existentes, o facto de, com as minhas antigas críticas, me sentir um pouco ‘velho do Restelo’ e, também, por ter alguma curiosidade em o conhecer pessoalmente.
Finalmente, o Senhor Doutor Protocolo começou a trabalhar na triagem e orientação dos doentes que recorrem à urgência dos HUC, sem que, por incompatibilidades da minha vida profissional e associativa, me tivesse sido previamente apresentado. Foi, pois, um “ver-te e amar-te” em simultâneo.
De imediato fui confrontado com alguns desvios que, em boa verdade, não se podem imputar ao Doutor Protocolo mas a quem ainda não o conhece bem, como aquela obesa que, porque há dois meses não conseguiria aceder ao seu Médico de Família, veio à urgência queixar-se que se sentia inchada (...) e me apareceu com o diagnóstico de ascite no local onde deveria ter sido colocado o número do fluxograma. É claro que não tinha ascite nenhuma...
A maioria das situações, porém, tem mesmo a ver com os conhecimentos britânicos do Doutor Protocolo!
Da mesma forma como alguns dos nossos políticos distribuem medalhas e condecorações a torto e a direito, o Doutor Protocolo elevou os nossos bêbados ao máximo patamar do respeito social! Dantes iam dormir para os calabouços da polícia, o que até lhes faria bem, depois passaram a vir curtir para o hospital, a maioria até já requeria Médico da VMER no local (doente inconsciente na via pública...), mas agora são doentes emergentes, fita vermelha no pulso, qual condecoração, com direito a encaminhamento para a sala de emergência! Poucos são desconsiderados com uma fitinha laranja! É o máximo!
A escalinha de dor, essa é um verdadeiro must! Haverá algum doente que venha à urgência por ou com dor que não diga que ela é, pelo menos, moderada? Toma lá com um amarelo e vai para a Medicina Interna! Agora até as infecções urinárias, ainda que com alguns dias, são amareladas (será influência da cor da urina?...)!
E quanto maior a ansiedade, maior a dor, mais carregada a cor! Acho que se podia instituir um prémio para o doente que, vindo à urgência com dor, dissesse que veio apenas para ver a bola e que, afinal, até nem lhe dói quase nada... Que tal uma martelada na cabeça para se queixar melhor para a próxima vez? Pelo menos passava a ver estrelas amarelas, ou talvez mesmo laranjas...
E aquele doente com dor cervical há 15 dias? Como disse que a dor era moderada, foi logo amarelado e encaminhado para a Medicina! Ou aqueles cujo único problema é cerúmen no canal auditivo externo mas que, pela dor “moderada ou severa”, são logo doentes urgentes! Enfim.
Sem esquecer o doente a quem doía o peito sempre que tinha muitos “arrotos”; o Senhor Doutor Protocolo amarelou-o para a Medicina por cauda da dor no peito. É evidente que teve que fazer todos os exames e mais alguns para podermos contrariar, com à vontade, o Doutor Protocolo; o nosso Colega de Manchester exagera nas classificações, nós temos de exagerar nos exames complementares, mesmo contra o raciocínio clínico mais evidente, não vá um dia um Senhor Dr. Juiz perguntar-nos como nos atrevemos a desvalorizar indicações de um Médico Doutorado em Manchester (querem que poupemos dinheiro, mas estão sempre a arranjar formas de nos obrigar a gastar mais!). O doente acabou por ter alta, sem quaisquer queixas, depois de levar uma simples metoclopramida.
Dor torácica que agrava com o esforço, fluxograma 27, discriminador “dor pleurítica”. Amarelada para a Medicina. Afinal era uma fractura de costela por queda há uma semana...
Claro que as “faltas de ar”, os tremeliques, os choros fáceis e as ansiedades, basta um singelo “peso” no coração, foram todas promovidas a dor pré-cordeal! Tunga, laranja! Ainda se arranjarão doentes para serem encaminhados para a Urgência Geral?
E os desgraçados que têm pequenas feridas a necessitar de sutura na pequena cirurgia mas têm um coração mais estóico? Ou aprendem depressa a dizer que a dor é, pelo menos, moderada, e são amarelados, ou chupam com um verde e têm de esperar horas até que todos os falsos amarelos sejam observados! Pelo menos, à frente de medrosos e mariquinhas ninguém passará!...
Podíamos continuar nesta senda, mas não vale a pena. Todos os que já foram apresentados ao Colega de Manchester terão as suas histórias para contar. Como aquele doente com icterícia que foi parar à oftalmologia com “problemas oftalmológicos”.
O problema da triagem de Manchester, como há muitos anos afirmei, é que, ao tentar reduzir os doentes a protocolos mais ou menos rígidos, tem forçosamente de colocar situações díspares no mesmo saco e pecar por excesso. Um exemplo é suficientemente paradigmático: para o Doutor Manchester, o limiar da hipoglicemia são os 80 mg/dl! Todavia, segundo o Current Medical Diagnosis & Treatment, 2005, os sintomas de hipoglicemia apenas surgem por volta do 60 mg/dl e a perturbação da função cerebral pelos 50 mg/dl! Os habitantes de Manchester devem ser diferentes dos outros... (não me admira, porque para não ser suficiente o quadro de agressão e ter surgido a necessidade de um fluxograma de auto-agressão, o pessoal de Manchester deve ser todo doido!...)
Com o ritmo de trabalho que lhes é imposto, não duvido que se fizéssemos glicemias ocasionais às nossas enfermeiras do serviço de urgência, a maioria passaria num ápice para a sala de emergência, com um soro glicosado a 5% e enfeitadas com uma pulseirinha vermelha novinha em folha... Não é muito difícil, bastava terem algumas alteraçõezitas do comportamento. É evidente que, depois disso, teriam seguramente direito a 15 dias de baixa para repouso e recuperação (ao fim e ao cabo tinham sido doentes emergentes!)!
Mais grave é o facto da Triagem de Manchester ter sido aferida num sistema de saúde completamente diferente do nosso. Por exemplo, não têm neurologistas de serviço à urgência nem a principal causa de morte são os AVC, demasiado desvalorizados pelo sistema, o que pode ter implicações na janela terapêutica para intervenção aguda nos AVC isquémicos. Paradoxalmente, num país que está a criar um via verde dos AVC, os sinais neurológicos focais estão em terceira linha e apenas conseguem um amarelito!
Depois de lidar de perto com o Senhor Doutor Protocolo, fiquei mais descrente dos Doutoramentos protocolizados em Manchester e um mais consistente defensor da verdadeira Triagem Médica (informatizada, treinada e com condições). Mas era preciso vir alguém de Manchester dizer-nos que o compromisso da via aérea, a respiração ineficaz, a hemorragia exsanguinante e o choque são situações de emergência? E não bastaria a mão de um jovem Médico para distinguir os quadros abdominais médicos dos cirúrgicos e orientar correctamente os doentes? Etc., etc. Depois desta experiência posso garantir que nunca ninguém me ouvirá dizer que um protocolo é melhor que um Médico. Por alguma razão, a seguir à triagem de Manchester o Hospital de Viseu colocou uma triagem Médica, uma experiência que se revelou extraordinariamente positiva.
Não há a menor dúvida que a triagem de Manchester devia sofrer algumas adaptações. A primeira coisa que proporia era que a escala de dor fosse retirada do sistema. Para os latinos portugueses, decididamente não serve! Orientar doentes com base na dor percebida é um erro crasso que apenas prioriza os mais histriónicos. É a total subversão do único objectivo da triagem de Manchester, a definição de prioridades reais! Além do mais, os doentes facilmente apreendem que, queixando-se com convicção, passam à frente “dos outros” (basta ligarem a intensidade das dores com a cor da pulseira!)...
De qualquer forma, a Triagem de Manchester trouxe algumas vantagens. Desde logo a informatização e organização da triagem em alguns hospitais (já existia nos HUC). Depois, pela primeira vez, há que reconhecê-lo, a triagem de doentes é feita num espaço físico condigno e reservado. Por último, agora a culpa de doentes mal triados não é de ninguém, é do sistema (o que é excelente para todos), e o sistema não pode ser condenado! Sem esquecer o marketing; funcionar bem, não é notícia, mas contratar o Doutor Manchester dá direito a comunicação social (como se alguma coisa se resolvesse por milagre)!
Para além das falhas do Doutor Protocolo, o mais afectado é mesmo o Director do Serviço de Urgência dos HUC. Não obstante ser uma pessoa indiscutivelmente inteligente, empenhada, diligente e dialogante, transformou-se no “cepo das marradas”, quando é credor do nosso máximo espírito de colaboração. Está à beira de um enfarte e, de todo, não o merece, coitado! Senhor Director, quando chegar à triagem, não se esqueça de dizer que a sua dor torácica é mesmo pré-cordeal ou muito severa, caso contrário corre o risco de ser apenas amarelado e morrer antes de ser observado... É que os suores frios, a palidez, a sensação de morte iminente, o sentido clínico (que só os Médicos podem ter), não contam para nada... Mesmo que tenha vómitos evite dizer que a dor é ligeira, ou vai parar aos verdes e aventura-se a esperar horas por um ECG (o que já aconteceu...). Quanto aos doentes com enfarte que apenas tenham dor no membro superior esquerdo, vão para a Ortopedia...
Mas confesso que gostei de conhecer o Senhor Doutor Protocolo, Manchester de apelido. É um pervertido exagerado! Porém, estou agora bem mais convicto que os Médicos portugueses ligados à urgência/emergência conseguiam fazer melhor e adaptar-se às nossas várias realidades hospitalares (sei que o Grupo Português de Triagem está a trabalhar nesses sentido). Também não tenho quaisquer dúvidas que, caso fosse aplicada por Médicos, a esmagadora maioria das limitações e erros da Triagem de Manchester seria de imediato resolvida pelas competências que são específicas da formação Médica. Fica feita a proposta.
Prof. José Manuel Silva
Internista dos HUC; Presidente do Conselho Regional do Centro
Por simpatia e amizade, o Director do Serviço de Urgência dos HUC perguntou-me o que achava da eventual contratação deste novo Colega, Doutorado lá para os lados de Manchester. Concordei, considerando os condicionalismos existentes, o facto de, com as minhas antigas críticas, me sentir um pouco ‘velho do Restelo’ e, também, por ter alguma curiosidade em o conhecer pessoalmente.
Finalmente, o Senhor Doutor Protocolo começou a trabalhar na triagem e orientação dos doentes que recorrem à urgência dos HUC, sem que, por incompatibilidades da minha vida profissional e associativa, me tivesse sido previamente apresentado. Foi, pois, um “ver-te e amar-te” em simultâneo.
De imediato fui confrontado com alguns desvios que, em boa verdade, não se podem imputar ao Doutor Protocolo mas a quem ainda não o conhece bem, como aquela obesa que, porque há dois meses não conseguiria aceder ao seu Médico de Família, veio à urgência queixar-se que se sentia inchada (...) e me apareceu com o diagnóstico de ascite no local onde deveria ter sido colocado o número do fluxograma. É claro que não tinha ascite nenhuma...
A maioria das situações, porém, tem mesmo a ver com os conhecimentos britânicos do Doutor Protocolo!
Da mesma forma como alguns dos nossos políticos distribuem medalhas e condecorações a torto e a direito, o Doutor Protocolo elevou os nossos bêbados ao máximo patamar do respeito social! Dantes iam dormir para os calabouços da polícia, o que até lhes faria bem, depois passaram a vir curtir para o hospital, a maioria até já requeria Médico da VMER no local (doente inconsciente na via pública...), mas agora são doentes emergentes, fita vermelha no pulso, qual condecoração, com direito a encaminhamento para a sala de emergência! Poucos são desconsiderados com uma fitinha laranja! É o máximo!
A escalinha de dor, essa é um verdadeiro must! Haverá algum doente que venha à urgência por ou com dor que não diga que ela é, pelo menos, moderada? Toma lá com um amarelo e vai para a Medicina Interna! Agora até as infecções urinárias, ainda que com alguns dias, são amareladas (será influência da cor da urina?...)!
E quanto maior a ansiedade, maior a dor, mais carregada a cor! Acho que se podia instituir um prémio para o doente que, vindo à urgência com dor, dissesse que veio apenas para ver a bola e que, afinal, até nem lhe dói quase nada... Que tal uma martelada na cabeça para se queixar melhor para a próxima vez? Pelo menos passava a ver estrelas amarelas, ou talvez mesmo laranjas...
E aquele doente com dor cervical há 15 dias? Como disse que a dor era moderada, foi logo amarelado e encaminhado para a Medicina! Ou aqueles cujo único problema é cerúmen no canal auditivo externo mas que, pela dor “moderada ou severa”, são logo doentes urgentes! Enfim.
Sem esquecer o doente a quem doía o peito sempre que tinha muitos “arrotos”; o Senhor Doutor Protocolo amarelou-o para a Medicina por cauda da dor no peito. É evidente que teve que fazer todos os exames e mais alguns para podermos contrariar, com à vontade, o Doutor Protocolo; o nosso Colega de Manchester exagera nas classificações, nós temos de exagerar nos exames complementares, mesmo contra o raciocínio clínico mais evidente, não vá um dia um Senhor Dr. Juiz perguntar-nos como nos atrevemos a desvalorizar indicações de um Médico Doutorado em Manchester (querem que poupemos dinheiro, mas estão sempre a arranjar formas de nos obrigar a gastar mais!). O doente acabou por ter alta, sem quaisquer queixas, depois de levar uma simples metoclopramida.
Dor torácica que agrava com o esforço, fluxograma 27, discriminador “dor pleurítica”. Amarelada para a Medicina. Afinal era uma fractura de costela por queda há uma semana...
Claro que as “faltas de ar”, os tremeliques, os choros fáceis e as ansiedades, basta um singelo “peso” no coração, foram todas promovidas a dor pré-cordeal! Tunga, laranja! Ainda se arranjarão doentes para serem encaminhados para a Urgência Geral?
E os desgraçados que têm pequenas feridas a necessitar de sutura na pequena cirurgia mas têm um coração mais estóico? Ou aprendem depressa a dizer que a dor é, pelo menos, moderada, e são amarelados, ou chupam com um verde e têm de esperar horas até que todos os falsos amarelos sejam observados! Pelo menos, à frente de medrosos e mariquinhas ninguém passará!...
Podíamos continuar nesta senda, mas não vale a pena. Todos os que já foram apresentados ao Colega de Manchester terão as suas histórias para contar. Como aquele doente com icterícia que foi parar à oftalmologia com “problemas oftalmológicos”.
O problema da triagem de Manchester, como há muitos anos afirmei, é que, ao tentar reduzir os doentes a protocolos mais ou menos rígidos, tem forçosamente de colocar situações díspares no mesmo saco e pecar por excesso. Um exemplo é suficientemente paradigmático: para o Doutor Manchester, o limiar da hipoglicemia são os 80 mg/dl! Todavia, segundo o Current Medical Diagnosis & Treatment, 2005, os sintomas de hipoglicemia apenas surgem por volta do 60 mg/dl e a perturbação da função cerebral pelos 50 mg/dl! Os habitantes de Manchester devem ser diferentes dos outros... (não me admira, porque para não ser suficiente o quadro de agressão e ter surgido a necessidade de um fluxograma de auto-agressão, o pessoal de Manchester deve ser todo doido!...)
Com o ritmo de trabalho que lhes é imposto, não duvido que se fizéssemos glicemias ocasionais às nossas enfermeiras do serviço de urgência, a maioria passaria num ápice para a sala de emergência, com um soro glicosado a 5% e enfeitadas com uma pulseirinha vermelha novinha em folha... Não é muito difícil, bastava terem algumas alteraçõezitas do comportamento. É evidente que, depois disso, teriam seguramente direito a 15 dias de baixa para repouso e recuperação (ao fim e ao cabo tinham sido doentes emergentes!)!
Mais grave é o facto da Triagem de Manchester ter sido aferida num sistema de saúde completamente diferente do nosso. Por exemplo, não têm neurologistas de serviço à urgência nem a principal causa de morte são os AVC, demasiado desvalorizados pelo sistema, o que pode ter implicações na janela terapêutica para intervenção aguda nos AVC isquémicos. Paradoxalmente, num país que está a criar um via verde dos AVC, os sinais neurológicos focais estão em terceira linha e apenas conseguem um amarelito!
Depois de lidar de perto com o Senhor Doutor Protocolo, fiquei mais descrente dos Doutoramentos protocolizados em Manchester e um mais consistente defensor da verdadeira Triagem Médica (informatizada, treinada e com condições). Mas era preciso vir alguém de Manchester dizer-nos que o compromisso da via aérea, a respiração ineficaz, a hemorragia exsanguinante e o choque são situações de emergência? E não bastaria a mão de um jovem Médico para distinguir os quadros abdominais médicos dos cirúrgicos e orientar correctamente os doentes? Etc., etc. Depois desta experiência posso garantir que nunca ninguém me ouvirá dizer que um protocolo é melhor que um Médico. Por alguma razão, a seguir à triagem de Manchester o Hospital de Viseu colocou uma triagem Médica, uma experiência que se revelou extraordinariamente positiva.
Não há a menor dúvida que a triagem de Manchester devia sofrer algumas adaptações. A primeira coisa que proporia era que a escala de dor fosse retirada do sistema. Para os latinos portugueses, decididamente não serve! Orientar doentes com base na dor percebida é um erro crasso que apenas prioriza os mais histriónicos. É a total subversão do único objectivo da triagem de Manchester, a definição de prioridades reais! Além do mais, os doentes facilmente apreendem que, queixando-se com convicção, passam à frente “dos outros” (basta ligarem a intensidade das dores com a cor da pulseira!)...
De qualquer forma, a Triagem de Manchester trouxe algumas vantagens. Desde logo a informatização e organização da triagem em alguns hospitais (já existia nos HUC). Depois, pela primeira vez, há que reconhecê-lo, a triagem de doentes é feita num espaço físico condigno e reservado. Por último, agora a culpa de doentes mal triados não é de ninguém, é do sistema (o que é excelente para todos), e o sistema não pode ser condenado! Sem esquecer o marketing; funcionar bem, não é notícia, mas contratar o Doutor Manchester dá direito a comunicação social (como se alguma coisa se resolvesse por milagre)!
Para além das falhas do Doutor Protocolo, o mais afectado é mesmo o Director do Serviço de Urgência dos HUC. Não obstante ser uma pessoa indiscutivelmente inteligente, empenhada, diligente e dialogante, transformou-se no “cepo das marradas”, quando é credor do nosso máximo espírito de colaboração. Está à beira de um enfarte e, de todo, não o merece, coitado! Senhor Director, quando chegar à triagem, não se esqueça de dizer que a sua dor torácica é mesmo pré-cordeal ou muito severa, caso contrário corre o risco de ser apenas amarelado e morrer antes de ser observado... É que os suores frios, a palidez, a sensação de morte iminente, o sentido clínico (que só os Médicos podem ter), não contam para nada... Mesmo que tenha vómitos evite dizer que a dor é ligeira, ou vai parar aos verdes e aventura-se a esperar horas por um ECG (o que já aconteceu...). Quanto aos doentes com enfarte que apenas tenham dor no membro superior esquerdo, vão para a Ortopedia...
Mas confesso que gostei de conhecer o Senhor Doutor Protocolo, Manchester de apelido. É um pervertido exagerado! Porém, estou agora bem mais convicto que os Médicos portugueses ligados à urgência/emergência conseguiam fazer melhor e adaptar-se às nossas várias realidades hospitalares (sei que o Grupo Português de Triagem está a trabalhar nesses sentido). Também não tenho quaisquer dúvidas que, caso fosse aplicada por Médicos, a esmagadora maioria das limitações e erros da Triagem de Manchester seria de imediato resolvida pelas competências que são específicas da formação Médica. Fica feita a proposta.
Prof. José Manuel Silva
Internista dos HUC; Presidente do Conselho Regional do Centro
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